“O
Quarteirão Proibido – Jeremias, mon amour!”, é uma obra de
Fernanda Tanizaki publicada em 2015 pela editora Gryphus. A história
gira em torno de Magritte, um misterioso bibliotecário que trabalha
para uma organização secreta chamada CGC e recebe a missão de
recuperar um livro roubado. A obra está dividida em vinte capítulos,
mais o prólogo e o epílogo, totalizando pouco mais de cem páginas.
O
nome do protagonista, em referência ao famoso pintor surrealista de
obras como “A traição das imagens”, já é um indício das
alusões que surgem durante todo o livro, exigindo um pouco mais de
conhecimento por parte do leitor para compreendê-las e assim
aproveitar a leitura em um nível mais aprofundado.
A
biblioteca em que Magritte trabalha fica em um prédio secreto,
fortemente vigiado em um quarteirão onde todas as lojas são falsas
e na verdade seus “donos” trabalham para a organização secreta,
como o próprio protagonista. Os livros que são guardados no subsolo
do quarteirão são psicografias de mestres de mentalidade muito
superior à da maioria das pessoas, como Sócrates e Einstein, porém
estas são obras que eles não tiveram tempo de produzir e que
causariam muita confusão se viessem a público. Logo, a missão da
CGC é garantir que as únicas cópias desses livros fiquem em poder
deles.
O
problema é que, logo no início da história, uma misteriosa garota
chamada Ira Katurama consegue invadir a biblioteca e roubar um dos
livros mais protegidos do quartel. Quando Magritte chega para
trabalhar no dia seguinte, descobre que é o principal suspeito de
ser um espião interno que colaborou para o assalto e é obrigado a
se comprometer a encontrar o livro para provar sua inocência. Ele só
pode contar com a ajuda de Jeremias, um bonequinho de plástico que
surpreendentemente tem vida própria e o acompanha por todos os
lados.
Há
que se explicar melhor a relação entre Magritte e Jeremias, na
verdade um bonequinho de sua coleção de “action figures” que se
diz ser uma modelo famosa que teve a alma aprisionada no brinquedo.
Apaixonada por Magritte, os dois se apegam um ao outro travando
diálogos enamorados, enciumados e muitas vezes engraçados, por se
tratar de um homem adulto e um boneco trocando declarações de amor.
Com
uma pista deixada pela assaltante misteriosa, que parece querer ser
encontrada por ele, Magritte consegue chegar ao quartel general da
Guilda das Iluminuras, organização da qual ele nunca ouviu falar
antes, mas que tem um interesse todo especial nele. Ele descobre que
o objetivo principal é “O Livro”, o mais bem guardado do CGC e
que ninguém pode ter a oportunidade de ler ou mesmo sabe onde se
encontra.
Por
manter o foco em livros e no poder (ou perigo) do conhecimento que
carregam, “O Quarteirão Proibido” é uma obra que chama a
atenção. Sendo que o acesso à biblioteca com os livros mais
perigosos se dá através de um elevador que vai cada vez mais fundo
no subsolo, é fácil fazer uma analogia com o acesso ao
subconsciente e seus “guardas” que dificultam o acesso. Há
diversos exemplos de uso de referências externas, muito bem
escolhidas por ser uma obra de pouca extensão.
Além
disso, elementos aparentemente secundários, como uma história em
quadrinhos que só existe no livro, cuja autora é tão reclusa e
misteriosa quanto a própria Fernanda Tanizaki, ampliam o mistério,
dando a impressão de que há histórias dentro da própria história
e que não há limites para tal. Bem como afirma o personagem “Red
Tie” no início da obra, “este não é um livro”, em referência
ao quadro “La trahison des images”, que não por coincidência é
de autoria do Magritte da “vida real”, que empresta seu nome ao
protagonista do livro. Isso poderia sugerir que o livro tão
procurado e bem guardado sequer deve existir. A busca de
conhecimento, é subjetiva demais, o surrealismo da pintura se opõe
ao racionalismo, negando aquilo que se pode ver e até nomear, que é
a associação óbvia entre a representação e o objeto
representado. É o que Magritte acaba tendo que descobrir para se
sair bem do violento conflito em que se viu metido.
A
autora não divulga fotos, nem dá entrevistas, preferindo manter o
anonimato. A única informação disponível é que nasceu em São
Paulo e que o livro em questão faz parte de uma série que irá
discutir os perigos e armadilhas do conhecimento.
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