O Castelo, de Kafka

Reflexões preciosas, de uma sabedoria quase desesperada diante da falta de sentido de certas regras, são o grande prêmio de quem se enche de paciência para ler esse livro com atenção. Por outro lado, a narrativa é cativante, embora lenta e cheia de pormenores.

Logo de início o conflito é apresentado: o protagonista K. chega a uma aldeia distante, no meio da noite, e além de não encontrar um lugar decente para dormir, tem que lidar com a indiferença das autoridades e a hostilidade de seus representantes. K. recebe ajudantes que o irritam e atrapalham; vive em uma hospedaria de onde querem expulsá-lo e arranja uma noiva que parece tão apaixonada quanto encrenqueira e ciumenta. A história se mostra familiar e atemporal, por isso merece ser lida apesar do esforço que exige.

O Castelo é um livro complicado de ler; parágrafos gigantes se seguem uns aos outros, misturando diálogos, descrições e narrativas. O autor deixa que os personagens contem suas próprias histórias, ou versões delas, o que acaba formando um nó na cabeça do leitor. Mas é assim que a história caminha, e quando o leitor se dá conta já está tão envolvido com os personagens que o final brusco é um choque e tanto, quebrando expectativas e esperanças.

O que podemos concluir é que os personagens não são necessariamente o que parecem: os travessos ajudantes apresentam uma face vingativa; a dedicada Frieda pode não passar de uma interesseira. Nem mesmo o protagonista escapa à regra. Afinal de contas, quem é K.? O que pretende ao insistir tanto em falar com Klamm, e mesmo em se casar com sua suposta amante?

Enfim, "O Castelo" é uma obra tão rica que, mesmo sem final, dá muito o que pensar a quem se propõe a acompanhar K. em sua luta insistente e perdida.

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