Inspirado em contos de fadas seculares e tendo como pano de fundo o eixo Bretanha-Irlanda em uma época de transição e resistência da cultura celta, Filha da Floresta é capaz de encantar e emocionar logo nas primeiras páginas, por possuir brilho próprio e diálogos autênticos e inspirados. As tradições, oferendas e crenças em deuses e duendes da floresta, junto à sabedoria dos druidas, são reveladas de forma natural, assim como a belíssima natureza irlandesa, minuciosamente descrita.
Criada por nada menos que seis irmãos mais velhos, Sorcha está longe de ser uma princesinha mimada, embora seja filha de um poderoso lorde. Desde cedo se interessa por livros, histórias e acima de tudo o conhecimento das ervas e seus poderes curativos. Passa o tempo cuidando de um jardim e andando pelo povoado oferecendo seus serviços para melhorar a vida dos camponeses, enquanto seus irmãos mais velhos lutam, treinam ou se distraem com diversas atividades. Afinal, embora os sete façam parte de um todo, têm personalidades e interesses muito diferentes.
Embora não seja nada boba ou infantil, Sorcha se ressente ao descobrir que está chegando a época de seus irmãos seguirem suas vidas. Liam, o mais velho, assume o noivado com uma garota que ela considera muito sem graça. Claro que ela gostaria que nada mudasse, mas sabe que o tempo está passando e um dia até ela mesma terá que arrumar um marido. Outro problema é o distanciamento do pai, abalado com a morte da mãe e concentrado somente na guerra com os bretões, chegando mesmo a se desentender com Finbar, o único filho que o confronta por isso.
A situação se complica com o novo casamento do pai. Ninguém gosta da ideia, mas o motivo agora é bem diferente. A madrasta logo demonstra segundas intenções e seu único interesse é destruir a família para que seus próprios filhos herdem as terras de lorde Colus. Enfeitiçado, o marido não percebe e termina facilitando para que a mulher transforme seus seis filhos em cisnes. Sorcha, que consegue escapar, se vê agora sozinha e sem esperanças, perseguida pela madrasta que quer vê-la sumir o mais rápido possível.
Sem seus irmãos, você não é nada, diz a madrasta. Aí é que ela se engana...
A tarefa de Sorcha para desfazer o feitiço é cruel, desumana e praticamente a destrói. Como se não bastasse, ela é atacada por dois homens na gruta onde se escondeu. Arrasada, cheia de raiva e desespero, ela tem todos os motivos para desistir, mas não o faz, nem quando o perigo se estende cada vez mais sobre ela. Aos poucos, ela vai conhecendo o amor... através de um guerreiro bretão, inimigo mortal de seu pai, seu povo e dela mesma! Em terra estrangeira, ela é hostilizada, desprezada e rejeitada. Ninguém a quer ali, mas ela volta seus olhos unicamente para a tarefa que precisa cumprir, antes que seja tarde.
Sou a filha da floresta... Ela repete para si mesma que precisa ser forte, mesmo longe de casa e da floresta encantada onde vivem os seres mágicos que ela aprendeu a respeitar desde criança, mas que para os bretões não passam de uma fantasia. Injustamente acusada, condenada à morte, ela jamais renuncia ao objetivo de recuperar seus irmãos, nem mesmo quando seu coração traumatizado começa a bater por outra pessoa.
A magia dos druidas, as peças dos duendes e as maravilhas de uma natureza selvagem e pura alimentam a autenticidade e dão vida a personagens completos e adoráveis. Só dá mais vontade de continuar devorando a obra da autora.
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