Redenção, de Josiane Veiga


A Autora:

Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e teve em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores.

Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de quarenta histórias, de originais a contos envolvendo o universo da animação japonesa.

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"Até hoje luto para que meus livros sejam vistos como obras, não como materiais pornográficos"


A Obra



Quando a Josiane me falou que Redenção era melhor do que o livro anterior, Rendição, eu jurei não me deixar influenciar durante a leitura. Mas desde as primeiras páginas já tive que concordar com ela. A história avança muito mais rápido e consequentemente envolve muito mais. A autora segue com a proposta de retratar os relacionamentos homossexuais de dois casais de artistas famosos, que vivem o dilema de esconder a situação do público e de parentes. Nossos personagens já conhecidos seguem suas vidas, já morando juntos, e descobrimos depressa que as coisas não vão lá tão bem assim. O casamento de  Nino e Ken enfrenta crises, brigas e desentendimentos quanto à organização da casa (ou falta dela). Será que para um casal tão apaixonado que já sofreu tanto no passado vai se desfazer agora por causa de toalhas molhadas e louça suja?

"-Isso vai passar, viu? (...) Não há dor que dure para sempre."

O ritmo pesado de trabalho também causa um clima de insatisfação em casa, porque Ken se sente deixado de lado e acaba magoando Nino, chegando a ser quase cruel, sem perceber que o outro está se afundando em depressão. Logo percebemos que as feridas são mais antigas e profundas do que parecem. Por vezes a relação de Nino parece arrasada, e isso combinado a seu passado de rejeição e amargura faz dele uma pessoa doente e deprimida que só se sente amado pelo próprio cachorro. Eu devo dizer que durante o livro quase chorei com a forma como a mãe o despreza e ignora, em contraponto à violência e raiva do pai, em Rendição. Ele parece tomado pelo impulso de se autodestruir, assombrado pelo passado de torturas físicas e psicológicas que sofreu da própria família.

Mas não são só os problemas de Nino e Ken que tomam conta das 400 páginas de Redenção. Aiko e Shuichi começam a viver um drama, após dez anos de namoro: suas mães descobrem o segredo e suas reações não são nada animadoras. A sociedade para a qual eles são referência como pessoas públicas impõe regras muito claras e afixadas na cabeça do povo:

"O apresentador de um telejornal deve ser alguém idôneo, de preferência pai de família. Uma bela esposa, magra, de aparência submissa, e um par de pirralhos gritões ajudaria muito."

É impensável se assumir publicamente. O machismo é praticamente um valor, e a mãe de Shuichi, rica e orgulhosa, tem uma idéia muito clara do casamento que sonha para seu filho. Claro que a homossexualidade passa longe de seus pensamentos. E a noiva perfeita deve vir de uma boa família japonesa.

"As atrizes mais bem vistas e amadas pelo público eram – publicamente – tímidas. O que era, sem sombra de dúvidas, a coisa mais contraditória do mundo. Como uma atriz, alguém que trabalha com a expressão de seu corpo, pode ter tanta vergonha?"

Com isso em mente, a personagem Audrey, estrangeira e decidida, ganha ainda mais força como grande amiga da banda Jishu. Ela também tem seus problemas, e além de ajudar também recebe um grande apoio dos amigos ao voltar ao Japão para ajudar Nino. Também podemos chorar por seu passado.

"-O momento mais feliz de toda a minha vida foi quando minha mãe morreu"

Entretanto, a essa altura da vida ela já descobriu que precisa seguir em frente, e a admiramos por isso.

"-Se eu fosse viver por mim mesma – disse, a voz neutra e mortificada –, já teria me destruído ou ficado louca"

Também é ela quem logo prevê o desastre que está para acontecer, mantendo-se um passo à frente, o que nos faz aguardar ainda mais o próximo livro da série!

"-A vida muitas vezes nos obriga a engolir nossos próprios sentimentos para o favorecimento daqueles a quem queremos bem."

Voltando à questão das mães, elas reagem da forma que imaginamos: com decepção e incompreensão. A familia chocada tenta propor "soluções" para "curar" os rapazes de sua relação proibida, beirando a agressão física e chantagem emocional, com reações dramáticas e desesperadas. No fundo, todos estão com vergonha e procuram impor suas soluções, mas a rejeição da situação como um todo é assustadora. Vamos ver a colocação da mãe de Aiko quando ele diz que ama Shuichi.

"-Isso não é amor – disse, por fim. – Amor um homem sente por uma mulher."

Realmente isso não será fácil. Mas ela não apoia o amor de Ken e Nino?

"-Uma coisa é o filho de Mayumi Ninomura ser gay. Outra, bem diferente, é o meu filho ser gay!"

Ah, entendido. Mas Shuichi tem uma forma bem simples de explicar o que sente por Aiko:

"-Eu te amo da maneira que devia amar uma garota!"

Com ou sem amor, a situação é delicada e promete ser devastadora. Nenhum dos garotos pretende abrir mão do apoio da família.

"-O amor nem sempre é um ato físico e feliz – Morita sussurrou nos seus ouvidos. – O amor às vezes também é dor e sacrifício."

Chega o ponto em que um casamento totalmente indesejado parece a única solução para salvar as aparências e garantir a felicidade das famílias. Mas a um preço bastante caro.

"Shuichi e ele iriam sacrificar e reprimir os próprios sentimentos pela felicidade de suas famílias."

Esses meninos são bons demais para existir. Opa, eles não existem. E ninguém na banda Jishu está lá muito feliz. Parece que eles se enrolam cada vez mais em problemas enquanto precisam entreter e satisfazer o país inteiro com suas apresentações e declarações sobre suas vidas pessoais.

"Que tipo de felicidade é essa? Que coisa falsa é essa que se baseia na infelicidade de duas pessoas que se amam?"

É... que tipo?

Comentários

  1. Essa com certeza é uma das resenhas mais lindas que já li na vida sobre Redenção. Chorei igual uma idiota lendo, você consegue captar cada ato desesperado, falso, fugaz.
    Eles não são principes encantados, ao contrário, como diz Audrey num dos 3 livros, ahhhh se as fãs desconfiassem quem de verdade cada um é, com tanta insegurança, tristeza...
    Enfim, nem tenho palavras para agradecer. MUITOOOO OBRIGADAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA pelo apoio!

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  2. Que história encantadora, carambaaaa. Virgínia, onde compro o livro? Josiane Veiga está de parabéns, quero ela no Imaginário's, agoraaaaa.... convence ela! :D

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    1. nossa eu sou muito pangua nem coloquei o link rs mas é no Clube de Autores

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  3. Comentário by Nanda Silveira - administradora. hehehe

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  4. Oi josy,so pela resenha ja fiquei com vontade de ler os dois.como posso pedir os livros?

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  5. Leila, os dois livros estão a venda no clube de autores
    https://clubedeautores.com.br/books/search?utf8=%E2%9C%93&what=josiane+veiga&sort=&commit=BUSCA

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